Ungidões
Quem me segue no Twitter sabe que, volta e meia, eu falo deles, os ungidões. O presente texto é para explicar quem são eles.
Ungido. Aquele que é escolhido por mandado divino e recebe uma missão, uma tarefa, um propósito a cumprir. Eu me aproprio do termo ungido e o hiperbolizo para dar a tônica do que vivi desde as eleições do ano de 2018 até o presente momento, maio de 2019, na minha relação com outros pastores. Reconheço que termo ungido pode acabar por confundir quem lê o presente texto, levando a pensar que me refiro a pastores pentecostais, mas não é o caso. Os ungidões que me refiro são, em sua imensa maioria, pastores batistas presbiterianos, inclusive da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a que pertenço. Os referidos irmãos em Cristo Jesus, no período das eleições, insistiam no discurso descabido de que, quem não votasse e fizesse campanha pró Bolsonaro, ia contra a vontade de Deus para a nação e, se ia contra a vontade de Deus, serviam a satanás, o que levou ao absurdo de, alguns deles, proclamarem que eu, que não apoiei Bolsonaro nem Haddad, era pastor de satanás, pois não ratificava o discurso vigente de que apenas bolsonaristas eram cristãos de verdade. À época desafiei publicamente a todos eles a escreverem um sermão usando positivamente, e em concordância, uma frase de Bolsonaro e o evangelho, e listei três frases absurdas do então candidato.
Acontece que eu sabia que o tempo iria passar e os ungidões iriam se arrepender. Mas não se arrependeram. Fizeram pior, se acovardaram. Se há algo que a Bíblia, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, nos ensina é que não há outro Deus acima de Deus, que ele escolheu dar a supremacia de toda a obra da criação para Jesus e que não há ninguém comparado a Jesus. Acontece que o Embaixador Ernesto Araújo comparou Bolsonaro a Jesus. Os ungidões se calaram. Não vi nenhum dos que me chamou de pastor de satanás vir a público defender ou condenar a declaração do chanceler. É difícil para mim encarar o fato de que colegas de profissão, a quem eu tinha em alta conta, agora são passadores de pano para declarações demoníacas de quem se apropria do discurso cristão para implementar uma agenda de poder político e ideológico no Brasil. No fim das contas, vejo pastores envergonhados, outros transferindo a conta para o neopentecostais, mas eu sei, e Deus também, que essa conta são de boa parte dos chamados Protestantes Históricos, Reformados e Batistas. Assisto a tudo com temor, tristeza e pesar. Como dói ver que quem prega arrependimento não é capaz de se arrepender. Que Deus tenha misericórdia de mim.