Quantos mais?

Giovanni Alecrim
2 min readNov 25, 2020

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A irrelevância da vida expressa nos números

Cento e cinco mil oitocentos e noventa e oito, ou 105.898. Esse foi, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística — IBGE — o número de mortes violentas em 2018. Ainda não estão disponíveis os números de 2019(!), mas não deve ter sido diferente, nem mesmo 2020 será, apesar da pandemia do COVID-19. Apenas a título de comparação, a guerra civil da Síria já matou mais de 380.000 vidas em nove anos de conflito. O Brasil teve cerca de 1/3 desse número em um ano.

Naturalizamos os números. Eles são frios, não possuem história, nem família. Naturalizamos a violência, ela é natural. Basta ligar a TV por volta das 17h e você verá a violência de todas as formas sendo apresentada como um programa de variedades. Fomos acostumados, geração após geração, a encarar a morte como números, não como histórias, legados e o que realmente são vidas perdidas. Qual a intenção disso tudo? Por que é tão natural olhar a morte como números? Porque é mais fácil contar os mortos que justificar a inoperância do Estado em políticas de segurança pública, saúde, educação e bem-estar social.

O problema é quando nós, calados, aceitamos tal condição. Não podemos olhar para os números de mortos pela violência e relativizar. Também não dá para olhar para os números de mortos pela COVID-19 e tentar justificar, defendendo os números em detrimento das vidas. O que é mais importante: a economia ou a vida? O que você prefere: saber que vamos salvar milhares de vida ou saber que milhares vão morrer, mas vamos salvar a economia? Esse dilema simples aponta para a prática política que os governantes têm imposto à sociedade. “Que morram, vão morrer mesmo um dia”. E achamos isso normal. Não pode ser normal. A morte não pode ser normal, em nenhuma circunstância.

A Igreja tem politizado uma discussão que não é para ser politizada. A morte e o contágio por COVID-19 é uma realidade e, quanto mais líderes e cristãos conscientes clamam por segurança sanitária e isolamento social, mais cristãos clamam pelo fim das regras, pois estão mais interessados na volta de uma anormalidade que preservar vidas. É lamentável que haja no meio do Corpo de Cristo pessoas mais interessadas em benefício próprio que comunitário. O egoísmo atingiu patamares nunca dantes visto publicamente. Ele sempre existiu, mas sempre esteve camuflado. Agora, está exposto e briga para ser respeitado. Lamentável.

Enquanto isso, pessoas morrem, quer de violência, quer de falta de tratamento de saúde, quer de falta de segurança sanitária em meio a uma pandemia. A máquina de Mamon¹ é poderosa e implacável. Ela passa por cima mesmo, não importam os números.

¹ deus da riqueza e do dinheiro

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Giovanni Alecrim
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Written by Giovanni Alecrim

Vida com Jesus, espiritualidade saudável, Bíblia, culto e teologia. https://bento.me/alecrim

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