Por que sou antifascista

Um breve texto sobre o que penso e o que defendo enquanto antifascista.

Giovanni Alecrim
5 min readSep 10, 2019

Fascismo. O termo voltou ao vocabulário de parte da população e provoca discussões acaloradas no meio político. Resolvi tentar entender o que é e como podemos definir o fascismo, se é que isto é possível.

O termo

Norberto Bobbio, filósofo italiano, publicou um interessante dicionário de política, onde, no verbete sobre fascismo, ele já nos diz que há tantos significados, e tantas contradições entre elas, que é difícil definir o que é o fascismo, mas, ainda assim, ele se lança a tal empreitada. Segundo ele, três formas de se entender o fascismo são as mais conhecidas:

O primeiro faz referência ao núcleo histórico original, constituído pelo Fascismo italiano em sua historicidade específica; o segundo está ligado à dimensão internacional que o Fascismo alcançou, quando o nacional-socialismo se consolidou na Alemanha com tais características ideológicas, tais critérios organizativos e finalidades políticas, que levou os contemporâneos a estabelecerem uma analogia essencial entre o Fascismo italiano e o que foi chamado de Fascismo alemão; o terceiro, enfim, estende o termo a todos os movimentos ou regimes que compartilham com aquele que foi definido como “Fascismo histórico”, de um certo núcleo de características ideológicas e/ou critérios de organização e/ou finalidades políticas. (Dicionário de Política, 11ª Edição, Editora UNB, 1998)

É justamente na terceira definição que o termo fascismo se perde. O difícil, no caso, é definir quantas das características do fascismo são necessárias para chamar um governo, partido ou projeto político de fascista. Na minha nada acadêmica opinião, se tem um, já é. Vamos às características listadas por Bobbio, segundo ele, se entende por Fascismo um sistema autoritário de dominação que é caracterizado:

  • Monopolização da representação política
  • Hierarquicamente organizado;
  • Ideologia fundada no culto do chefe,
  • Exaltação da coletividade nacional,
  • Desprezo dos valores do individualismo liberal e no ideal da colaboração de classes,
  • Oposição frontal ao socialismo e ao comunismo;
  • Mobilização das massas;
  • Socialização política planificada;
  • Aniquilamento das oposições;
  • Controle das informações e dos meios de comunicação de massa;
  • Dirigismo estatal no âmbito de uma economia;
  • A totalidade das relações econômicas, sociais, políticas e culturais integradas ao partido ou Estado

Apenas de ler esta sequência já dá para ir lembrando de nomes que ocuparam a presidência da República nos últimos trinta anos e que, em certa medida, possuí ao menos uma das características acima. Preocupante? Demais. Por isso que é necessário olhar para a definição de fascismo e suas características para poder compreender o que vivemos e o que estamos enfrentando agora no país.

O que penso

Quando eu me posiciono como antifascista, estou subscrevendo valores que combatem aquilo que considero mais pernicioso no âmbito das relações sociais. Quando vejo que governantes desejam que a representação política seja monopólio de um espectro político apenas, não posso aceitar a não existência do contraditório, por isso me posiciono contra. Quando vejo que líderes políticos são cultuados, mitificados pelos seus seguidores, não posso aceitar o endeusamento de um ser humano falho, tanto quanto eu, e muito menos acreditar na infalibilidade de um governante. Quando vejo um governante colocando a nação acima de todos os outros, não posso simplesmente me calar e aceitar que, em nome da nação, se mate, explore e escravize. Quando vejo um governante defendendo que o Estado deve proibir o que um indivíduo pode fazer quanto ao gênero, sua forma de se relacionar com o universo ao seu redor e como o indivíduo colabora com o todo, eu não posso aceitar a interferência naquilo que é primordial de cada um de nós, a nossa identidade. Quando vejo governantes se opondo ferozmente contra um outro aspecto do entendimento político e social, eu não posso, mais uma vez, aceitar a não existência do contraditório. Quando vejo governantes mobilizando massas para validar seus pensamentos, tentando fazer da voz do povo a voz da razão, eu não posso deixar de lembrar das minorias, dos que não tem voz, dos que são achacados pela voz da razão opressora. Quando um governante diz que vai fuzilar a oposição, ou que deseja o fim de um determinado partido político, eu não posso, mais uma vez, aceitar a não existência do contraditório e ainda não posso aceitar o massacre em nome de uma ideologia política. Quando vejo um governante querendo caçar visto de jornalista estrangeiro por publicar o que ele não gosta, escolhendo qual rede de comunicação ele vai privilegiar com contratos de propaganda do governo e usando de empresários para pressionar telejornais a não falar mal do governo, não posso aceitar o controle das informações e dos meios de comunicação como forma de se perpetuar no poder. Quando vejo governantes querendo que o governo determine e regule todas as esferas da sociedade, mandando na economia, relações sociais, políticas e na cultura, eu não posso aceitar que digam o que devo pensar. Por tudo isso, eu sou antifascista e não consigo compreender como um cristão pode se alinhar com quem defenda qualquer um dos pontos citados, mas aí é questão pessoal.

Anarquia

Um dos principais agentes na luta antifascista é o movimento anarquista, que é outro termo difícil de se definir e cujo desenvolvimento do pensamento quanto a forma de reger as relações sociais me chamaram bastante atenção. Diferentemente do que se pensa, anarquia não é bagunça ou falta de regras, é a forma de viver em sociedade de maneira livre, sem poder superior de ordem ideológica, política, econômica, social e jurídica. Pode parecer contraditório eu falar de anarquia, já que considero a social-democracia a maneira mais viável de governo dentro dos padrões políticos atuais, mas não o é, pois, o anarquismo seria o rompimento com a forma atual de sociedade e a instalação de uma nova forma, onde a liberdade pode ser vivida e a construção de limites sociais se dá pelo coletivo, não pelo poder de uma minoria, escolhida ilusoriamente pela maioria e que determina a manutenção de privilégios de uma elite, enquanto sangra as massas para se sustentar o luxo em que vivem.

Pode também parecer contraditória meu interesse e fascínio pelo anarquismo atual, tendo em vista que espero a instauração da Monarquia Absolutista do Rei de Amor, Jesus, mas não o é, pois, penso que, enquanto o dia não chega, nada melhor que construir no diálogo e respeito o que queremos como sociedade. Todo sistema de governo e relação social será uma ofensa ao evangelho, no entanto, estamos inseridos num contexto social e político e com ele nos relacionamos e nele vivemos. Cabe a cada cristão, diante de sua consciência e com mente e coração postos em Cristo, decidir o que quer defender como forma de governo, sabendo que nenhuma delas pode sobrepor, em nossas condutas, palavras e pensamentos, o Reino de Deus.

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Giovanni Alecrim
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Written by Giovanni Alecrim

Vida com Jesus, espiritualidade saudável, Bíblia, culto e teologia. https://bento.me/alecrim

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