Pastores ou militantes?
Vocacionados se esquecem a quem eles servem e por quem eles foram chamados. Já não há diferença entre pastores e militantes?
Tenho visto uma avalanche de publicações e comentários de pastores nas redes sociais defendendo o indefensável. Pergunto-me muitas vezes a quem servimos. Não pode ser a este mundo, nem aos poderes desta sociedade ou deste Governo, quer federal ou estadual, imerso em corrupção. Deus nos chama, pastores e pastoras, para proclamar o evangelho. Abro a Palavra de Deus e vejo profetas denunciando a opressão, lutando por justiça social e religiosa; vejo apóstolos buscando paz com os governos. Vejo Natã e João Batista denunciando o adultério do Rei. Mas em nenhum dos textos vejo profetas ou apóstolos negociando privilégios, defendendo ideologias políticas ou militando por mais espaço político do povo de Deus. A busca pela justiça é a busca pela vontade de Deus na vida do povo e tal vontade se expressa independente da ideologia política. Se calar-se diante da corrupção é tornar-se conivente com ela, o que dizer de quem defende o corruptor mais do que busca a verdade?
Nós somos conclamados a buscar a verdade e trazê-la para a luz e não a erguer bandeiras políticas ou deste ou aquele partido. Eu tenho minhas opiniões políticas, eu os expressos, mas diante das demandas de uma sociedade imersa em corrupção eu tenho o dever de deixar de lado minhas opiniões políticas para proclamar o Reino de Deus. Nós, pastores e pastoras, precisamos começar a fazer diferença em nossa sociedade. A falta de compromisso com o próximo, de uma educação firmada em valores sociais sólidos e a falta de princípios éticos que rejam os cidadãos e suas relações com a sociedade. Segundo o Censo do IBGE em 1980 os cristãos não católicos eram 6% da população, em 1990, 10%, em 2000, 15% e em 2010 22%. Se somados aos católicos, somos 95% da população brasileira, no entanto, os púlpitos e os templos, sejam de que ramo forem, não estão sendo capazes de promover a mudança social a que um cidadão do Reino de Deus deve se comprometer a viver. Ou seja, estamos fazendo membros de instituições religiosas em proporção infinitamente maior que estamos fazendo discípulos. Do impeachment de Fernando Collor para cá os evangélicos mais que dobraram, mas não foram capazes de promover, no âmbito político e social, nenhuma transformação digna do Reino de Deus. É hora de sair do palanque. É hora de sair dos partidos. É hora de o cidadão do Reino de Deus assumir seu posto como servo e militar pelo Reino de Deus e não pela ideologia política. Sejamos nós, pastores e pastoras, as vozes que denunciam a injustiça e que clamam pela verdade. É possível sim viver sem negociatas, sem barganhas e sem sair ganhando em tudo. Está na hora de sermos povo de Deus. Ele nos tirou das redes do poder deste mundo para sermos pescadores de homens. Pessoas que levam pessoas para Jesus e que não se calam diante das injustiças deste mundo.