Moralidade seletiva
Quando o pensamento do outro me causa repulsa, mesmo que na essência eu pense o mesmo.
A moralidade seletiva é tremendamente perniciosa. Não estou entrando no âmbito das contradições, pois somos seres contraditórios, mas estou falando da maneira como alguns defendem arduamente seu ponto de vista, mas faz vista grossa para os erros de quem o apoia. No campo das ideias, o exemplo que se segue reflete bem o que quero dizer. Você é a favor que o jornalista estrangeiro que critica o governo, ou a pessoa do presidente, seja deportado ou tenha o visto cassado? Pode ser o Larry Rohter ou Glenn Greenwald, não importa. Se você comemorou quando Lula deportou Rohter, mas defende Greenwald, você tem uma moralidade seletiva. Sim, tem sim, pois não consegue lidar com oposições ao que pensa e quer controlar o que a imprensa diz sobre quem você defende, coisa, aliás, típico do fascismo. Todo caso, eu não defendo a deportação de nenhum dos dois, imprensa quanto mais livre melhor.
Voltando ao tema, a moralidade seletiva nos faz defender coisas como o direito ao porte de arma por ser da individualidade do cidadão, mas condenar o aborto, por ser um atentado à vida. Como se as armas não o fossem, como se aprovar o aborto fosse fazer com que as mulheres saíssem abortando toda gestação. A falta de senso na hora de se pensar politicamente tem corroído o diálogo entre os contraditórios, não se dialoga mais com a oposição, se ataca, ela se tornou uma inimiga a ser aniquilada, o que é mais um pensamento fascista.
A única maneira de superarmos a moralidade seletiva é buscando a moralidade individual, que é construída com base nas relações sociais. A minha moralidade possuí grande influência cristã, principalmente do ramo Reformado, Presbiteriano e da teologia progressista. Tais definições me colocam diante de valores morais que não podem ser colados a nenhum dos espectros políticos, embora todos eles tenham algum dos traços morais do cristianismo dentro deles. A construção da minha moralidade não se deu apenas no quando da afirmação de meus valores, mas principalmente em contraste e confrontação com os valores morais de outras pessoas, cristãs ou não, que moldaram minha moralidade e minha forma de pensar. A construção do indivíduo só é possível no coletivo, e o coletivo pressupõe contraditório. Por isso, antes de sair por aí atacando a forma de pensar, a moral e a ética de alguém, tente enfrentar internamente, em sua mente, o que a pessoa está expressando, para não se render a uma postura sectária, em que conviver com o diferente é uma ofensa para você. Conviver com a pluralidade de ideias é um dos principais sinais de maturidade pessoal e social, portanto, seja maduro.