MEMENTO MORI, MEMENTO VIVERE

Giovanni Alecrim
3 min readJul 20, 2019

A expressão latina que dá título ao texto é um alerta de que precisamos nos atentar para a realidade que vamos morrer, mas antes, precisamos viver.

Uma das poucas certezas que temos da vida é o fim dela. É saber que vamos passar dessa para uma melhor, é saber que haverá um dia em que não estaremos mais aqui. Parece-me que, em meio à sociedade da imagem e do conteúdo, não estamos nos dando conta da finitude da vida, vivendo como se o amanhã fosse mais um compromisso na agenda, que é sincronizada na nuvem. Talvez seja esta a palavra que melhor define nossos dias. Nuvem. Aquele pedaço de vapor de água flutuando sobre nossas cabeças que, se não chover, vai embora empurrada pelo vento.

A simplicidade da nuvem e sua complexidade existencial me remete a nós mesmos. Passamos, e isso é fato. Ao longo da história da humanidade, muitos foram os que tentaram soluções mágicas para perpetuar suas existências, para deixar um legado, uma herança, algo pelo qual pudessem ser lembrados pelas gerações futuras. O esquecimento nos aterroriza, naturalmente e, por isso mesmo, insistimos na sociedade da imagem, do hoje, da curtida, da postagem. É uma espécie de fuga da certeza de nossa fugacidade.

MEMENTO MORI

Estamos na Roma antiga. Um general retorna vitorioso para Roma e é recebido em uma parada militar, uma festa, ele e seus soldados. Em cima de seu carro, ele recebe uma coroa de louros do Auriga — um condutor de carruagem — que sustenta a coroa sobre a cabeça do general e lhe sussurra no ouvido, ao longo de todo o trajeto: MEMENTO MORI.

Lembre-se que você vai morrer. É contraditória se lembrar da morte diante de uma conquista grandiosa e festejada. Pode até nos parecer, mas é uma chamada para a realidade, é o despertar da consciência de que, um dia, o general não vai voltar, não haverá parada militar para ele, nem coroa de louros e nem Auriga sussurrando em seu ouvido.

MEMENTO VIVERE

Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens mínguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer.

Sêneca, em Carta 4: Sobre os Terrores da Morte.

O contraste ao MEMENTO MORI é o MEMENTO VIVERE. Lucius Annaeus Seneca foi um dos grandes eruditos romanos no Século I. Os estoicos levaram adiante o pensamento de Sêneca e hoje ele é preservado e buscado como filosofia de vida. Há quem diga que o Apóstolo Paulo e o filósofo romano trocaram correspondências, no primeiro século, o que teria influenciado os escritos paulinos. Quer seja fato ou não, há na máxima MEMENTO MORI, MEMENTO VIVERE um apelo a viver com a certeza da morte. Nada de novo debaixo do sol, o Pregador, autor de Eclesiastes na Bíblia, já havia ponderado sobre isso antes.

Lembre-se de viver. Mantenha vivo dentro de si o desejo pela vida, em meio a tantas oportunidades de morte. Em meio as glórias e conquistas de sua vida, lembre-se que tudo é fugaz, passa, vai, não permanece nem permanecerá, apenas passará. Logo, o hoje é o que temos, o ontem é uma lembrança e o amanhã uma possibilidade. Pense, planeje, sonhe com o amanhã, mantendo os pés firmes no hoje. Não seja paralisado pela morte, mas também não se engane, pensando que ela não chegará. Viva intensamente, pois o tempo foge, passa rápido e nem notamos sua passagem. Ontem era criança, hoje sou adulto. O que tenho, e você também, é o hoje. Viva-o

MEMENTO MORI.
MEMENTO VIVERE.

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