Generosidade: a instrução de Jesus

Giovanni Alecrim
7 min readFeb 3, 2024

A generosidade dá cores à vida

¹Estando Jesus no templo, observava os ricos depositarem suas contribuições na caixa de ofertas. ²Então uma viúva pobre veio e colocou duas moedas pequenas.

³Jesus disse: “Eu lhes digo a verdade: esta viúva pobre deu mais que todos os outros. ⁴Eles deram uma parte do que lhes sobrava, mas ela, em sua pobreza, deu tudo que tinha”. (Lucas 21.1–4)

Generosidade. Eis aqui uma qualidade que, com toda a certeza, você já deve ter ouvido dizer que é algo nobre, bonito, magnânimo.

Há um entendimento dos dicionários, ao definir os verbetes “generoso” e “generosidade”, de que se trata algo próprio dos que possuem alma e espírito elevado, dispostos a se sacrificar.

É possível perceber que tais definições dizem respeito a uma pessoa. O que pretendo tratar nesta série de mensagens não é sobre como apenas você deve ser generoso, mas, sim, a comunidade dos cristãos deve ser constantemente generosa.

Percorreremos tal jornada observando a instrução de Jesus, o exemplo dos apóstolos, o chamado à generosidade e a prática da generosidade.

Hoje começamos esta caminhada olhando para o texto de Lucas e tentando compreender onde está a generosidade que somos chamados a viver.

Quero que imagine comigo a cena. Após uma série de discursos sobre o Reino de Deus e, principalmente, uma dura advertência pública aos mestres da lei, Jesus estava repousando num canto, acompanhado dos discípulos, enquanto olhavam o movimento no templo.

Diferente dos templos modernos, o de Jerusalém possuía pátios externos ao templo em si. Em um deles estava a caixa de ofertas.

O gazofilácio era uma urna, geralmente de madeira revestida de cobre, usada para depósito das ofertas em dinheiro. Naquele tempo, moedas de prata, cobre, ouro, etc.

Ali estava Jesus e os discípulos, olhando o movimento e as pessoas depositando as contribuições. Uma rotina comum do templo.

Num determinado momento, uma pessoa desperta a atenção de Jesus. Provavelmente de maneira silenciosa, ele tensiona seu corpo e cabeça em direção a esta pessoa, fazendo com que os discípulos também se voltem para ela.

Uma viúva pobre está a caminho da caixa de ofertas sob os olhares de Jesus e seus discípulos. Chegando lá, deposita suas duas moedas pequenas, contrastando com as ofertas das pessoas mais ricas que ela.

Destaco aqui dois aspectos relevantes para compreendermos o contexto de nosso texto.

O primeiro, a personagem “viúva pobre”. Se voltarmos no capítulo 20.45–47 leremos o relato de Jesus advertindo os mestres da lei que se julgam superiores, mas que roubam a herança das viúvas.

É singular que após este relato, Lucas nos apresente o encontro de Jesus e os discípulos com a cena da viúva pobre depositando a sua oferta.

No texto do capítulo 20, as viúvas são extorquidas, e no texto de nossa mensagem elas dão tudo o que tem. E aqui entra o segundo aspecto relevante, que é o valor depositado.

As duas moedas pequenas depositadas pela viúva pobre são de menor valor. Seria a sobra da extorsão? Para compreendermos isto, necessitamos entender o texto original.

O termo traduzido por “duas moedas pequenas”, em grego, é a palavra λεπτὰ [lepta]. Se você tem o hábito de ler o Novo Testamento, com certeza já se deparou com o δηνάριον [denário], que é o valor de 1 dia de trabalho.

Pois bem, pegue um δηνάριον [denário] e divida em 128 partes e você terá uma λεπτὰ [lepta], a moeda de menor valor entre todas as que existiam em seu tempo.

Mas, sobre as moedas, ainda é importante ressaltar que, no capítulo 20.20–26, Jesus é perguntado se é correto pagar imposto.

Para responder, Jesus pede uma moeda de maior valor, o δηνάριον [denário], e pergunta de quem é a imagem cravada nela. Conclui sua resposta com a célebre sentença: “Então deem a César o que pertence a César, e deem a Deus o que pertence a Deus”.

Aquela viúva pobre, extorquida pelos mestres da lei, estava entregando a Deus o que pertence a Deus, a saber, tudo o que tinha.

Estes dois destaques são importantes, pois revelam o tamanho da exploração a que eram submetidas as viúvas do tempo de Jesus.

Os mestres da lei não observavam o cuidado para com os necessitados e as viúvas, explorando ambos. Diante do público eles se apresentavam como irrepreensíveis, mas a verdade é que eram ladrões sem arrependimento e sem senso de justiça.

É neste cenário, com estes personagens, com a singularidade da viúva pobre e da oferta que ela deu, que Jesus, na presença dos doze discípulos, fala sobre a importância do coração posto no Reino de Deus e não nas riquezas.

Com todo este cenário em mente, e retendo a informação dos dois aspectos importantes para nós, quero extrair algumas lições sobre a generosidade para nós, cristãos do século XXI.

Não é quanto, é como

Não é sobre quanto você oferta, é sobre como você oferta. Há uma enorme diferença nisto e Jesus revela tal verdade.

Ali no templo, com seu movimento diário de pessoas, os ricos depositavam suas ofertas. Nenhum deles despertou a atenção de Jesus, mas uma viúva pobre sim.

Ela entregou tudo o que tinha. E perceba que seu tudo, para os que ali estavam, não era nada. Troco, dinheiro de doce.

Acontece que ela não entregou do que sobrava, ou do que achava que deveria, ela entregou o que tinha.

Há aqui uma preciosa lição para os primeiros cristãos, que deve ecoar em nossa mente hoje: não existe entrega parcial para Deus, a entrega é total.

Já fui procurado por crentes que me perguntaram se o dízimo é obrigatório, se é dado sobre o líquido ou sobre o bruto, se oferta e dízimo são as mesmas coisas.

Se é obrigatório ou não, lembro aos membros que na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil o sustento financeiro da Igreja é dever dos membros.

Se é sobre o líquido ou sobre o bruto, acho que a resposta está clara: é sobre onde está o seu coração.

Você pode chamar de dízimo, pode chamar de oferta, de doação, dê o nome que quiser, não tem um nome específico.

Entrega de dízimo e oferta não é expressão de generosidade, é expressão de obediência.

Vou repetir para você gravar nos seus ouvidos. Entrega de dízimo e oferta não é expressão de generosidade, é expressão de obediência.

Agora vou repetir para você gravar na sua mente. Entrega de dízimo e oferta não é expressão de generosidade, é expressão de obediência.

Por fim, vou repetir para você gravar no seu coração. Entrega de dízimo e oferta não é expressão de generosidade, é expressão de obediência.

Onde, então, reside a generosidade no texto que meditamos hoje?

Confiança, gratidão e serviço

Reside na confiança, gratidão e serviço a Deus. A generosidade está onde nosso coração habita. Um coração dedicado a Deus, será um coração generoso.

Aquela viúva entregou tudo o que tinha, pois confiava em algo muito maior que aquelas duas moedas, muito maior que aquele gazofilácio, muito maior que o templo e que tudo o que existe. Ela confiava na providência e sustento que vem das mãos de Deus.

Agora, um coração dedicado ao dinheiro, será um coração conflituoso, buscando justificativas para sua ação religiosa, fundamentando bem na Bíblia suas escolhas, mas fechando os olhos para o que a Palavra manda vivermos.

Neste aspecto, somos parecidos com os mestres da lei. Gostamos de falar da nossa história na igreja, do que fizemos, das mensagens que pregamos, das músicas que tocamos, das boas ações que praticamos.

Exaltamos a nossa história, celebramos o nosso passado e nos assentamos no templo orgulhosos daquilo que fizemos. Mas, o que fizemos é o que o Senhor da Igreja queria que fizéssemos?

Os mestres da lei se orgulhavam de seu conhecimento e da forma como viviam publicamente a sua fé. Só que eram podres por dentro.

Os cristãos do século XXI estão acostumados a viver uma fé de Templo. Exigem que a Igreja satisfaça os desejos de sua alma, traga paz para o seu espírito, fortaleça sua família, traga aconchego para seu ego e, se possível, aumente o seu patrimônio.

O nosso texto nos mostra que tudo o que temos deve ser entregue para Deus. Você não entrega o que sobra, você entrega tudo.

Deus não está preocupado com o seu dinheiro, ele está te advertindo para que você não faça do dinheiro o um deus particular, um falso deus.

É o que Ed René Kivitz afirma em seu livro “Uma outra espiritualidade”

Aprendo que a vida que vale a pena ser vivida é aquela que se deixa levar pelos propósitos de Deus e se satisfaz no que ele promete dar.

A instrução de Jesus para nós revela que a generosidade é um traço daqueles que confiam na providência divina, são gratos a Deus pela salvação e estão dispostos a servir a todo instante.

Conclusão

Quero concluir a mensagem de hoje convidando você a viver a generosidade no seu dia a dia. Não se trata de ajuda financeira apenas, mas sim de atos de generosidade para com as pessoas ao nosso redor.

De nada adianta você vir à igreja pedindo bênçãos de Deus sobre a sua vida, que ele resolva os problemas da sua casa, do seu trabalho, ou qualquer que seja o problema, se em seu coração a intenção é apenas obter benefício próprio.

Atos de generosidade são urgentes na vida do cristão. Não à toa a comunidade dos primeiros cristãos viviam esta realidade de maneira constante, a ponto de termos ao menos dois registros em Atos dos Apóstolos do partir do pão de casa em casa e de não considerar seu nada do que tinham.

A nossa igreja carece de pessoas generosas, dispostas a se entregarem ao evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e espalharem generosidade ao seu redor.

Atos de generosidade são urgentes, pois vivemos em um mundo egoísta e ganancioso. Somos chamados deste meio, repleto de egoísmo e mesquinharia, para viver a generosidade dos que foram alcançados pela graça de Jesus.

Você não pode dizer que é cristão, se não é constantemente generoso com as pessoas ao seu redor.

Em Jesus temos nova vida e essa vida ganha cores quando somos generosos. Vamos colorir a vida das pessoas ao nosso redor. Sejamos generosos!

Sermão pregado no domingo, 4 de fevereiro de 2024, na Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP.

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