Diálogo em tempos de redes nada sociais
Enquanto houver o outro haverá a necessidade do diálogo. Manter a sanidade em tempos de loucura nas redes nada sociais é um desafio, e a resposta está em nós mesmos.
No meio de tanto grito, tanta balburdia, tanta confusão, o que antes era um sonho de futuro de informação e conhecimento, se tornou em arena de disputas imbecis em relação ao futuro da nação, da religião, do time de futebol. Transportamos nossas boçalidades do físico para o virtual. Não dá para achar que se fará uma grande nação sem conceitos básicos de civilidade e respeito às diferenças. Os estereótipos me cansam na mesma medida que os imbecis estão me cansando. Preciso aprender a conviver com eles, a não deixar que suas palavras toxicas me contaminem, mas também preciso aprender a não responder, a calar, a ignorar. Diante de uma postura de arrogância e provocação barata, o que mais me causa indignação são os robots de carne, osso, polegar opositor e sistema nervoso central subdesenvolvido. Uma mistura de gente real com sistema de pensamento tomado pela arrogância típica dos ignorantes.
Há solução para este caos que se tornou a convivência em rede sociais? Se há alguns anos se constatava com ares de critica as bolhas nas redes, hoje há que brade a plenos pulmões “deixe-me quieto na minha bolha”. O diferente nos é tão necessário quanto indesejado nos dias de hoje. Por mais que busquemos o diálogo, ele só é possível quando há o mínimo de respeito e empatia do outro lado. Mas quando o outro é um híbrido de humano e máquina que só sabe reproduzir chavões e preconceitos estereotipados, como estabelecer diálogo? Não tem como, o silêncio dos teclados é mais necessário que o tique das teclas. A solução, portanto, está em aprender a falar com quem quer dialogar. Diante da falta de diálogo, ignorância e intolerância o meu silencio e a minha ausência é a melhor reposta que posso dar.
A questão toda do diálogo nas redes sociais que me leva a escrever este texto é que este comportamento saiu do físico, entrou no meio virtual e voltou para o físico. Explico. Pessoas que antes eram amáveis e sabiam dialogar, hoje se desmancham em ironias e frases de efeitos, plantam mentiras, estabelecem e fortalecem estereótipos falsos a respeito dos outros, semeiam discórdia em tom de discurso de paz, fazem da vida de outras pessoas um inferno na terra. Os stalkers — perseguidores nas redes sociais, seguem seu trabalho presencialmente. Recentemente descobri uma verdade sobre eles, ao confrontar uma pessoa. São covardes, não sustentam o que dizem, não são capazes de dizer na cara o que escrevem na tela. Em tempos de redes nada sociais, o diálogo está perdendo espaço, cada vez mais, para o grito insano de quem não é capaz de ouvir.