Descanso
A urgência de se aprender a incrível arte de se saber parar.
Tem dias em que é difícil produzir. Escrever, pensar em projetos e estratégias para o pastorado. Sempre que me vejo diante de um bloqueio de pensamento e ideia, levanto da cadeira e dou uma volta pela sala, pelo templo, pelas dependências da igreja. Dou-me ao luxo de parar e pensar e outra coisa, outras perspectivas de outros assuntos, para que a mente diversifique sua atividade e então possa retomar a que deixei na minha sala. A pausa é necessária para que a mente se realinhe. Assim também acontece com a folga, o dia de descanso, o dia de parar e buscar algo diferente, oh nada, para fazer.
Então Jesus disse: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”. (Marcos 2.27)
Jesus estava respondendo a crítica de fariseus a respeito de seus discípulos colherem espigas para comer em pleno sábado. O sábado era um dos mandamentos mais observados pelo povo judeu, no tempo de Jesus. Só no Novo Testamento temos mais de sessenta menções a respeito do sábado. No Antigo Testamento, a lei a respeito do sábado é uma das mais comentadas e retomadas ao longo do livro.
Há uma razão óbvia para que o sábado seja tão comentado: todo ser humano precisa de descanso. Acontece que os fariseus impuseram tantas regras adicionais e detalhadas à lei do sábado que se tornou um fardo para as pessoas, não porque eram de todo difíceis de cumprir, mas porque eram profundamente repressoras. O povo passava o sábado com medo de fazer algo errado, não aproveitavam o descanso.
Se nos tempos de Jesus o povo temia o sábado, em nossos dias somos inundados de propostas e possibilidades para o sábado. Desde dar um trato na casa até lotar a agenda de compromissos com amigos. Claro que tudo isso é necessário, bom e faz bem para a alma. Descanso é necessário, para o corpo, para alma. É preciso saber parar, saber desligar, ir fazer algo que se gosta, que se curte ou simplesmente não fazer nada. E é justamente aí que nos perdemos. Achamos que não fazer nada é errado, que estar e ser improdutivo é inviável nos dias de hoje, mas não é. Você precisa parar, olhar ao redor, ver os detalhes, ver o todo, ficar de bobeira. Esse esvaziar da mente e da agenda é fundamental para recompor o corpo e alma para enfrentar os desafios. Saber parar é uma arte, se desligar e focar no não-foco é um exercício tal qual pintar um quadro, compor um poema, compor uma música ou encenar um peça teatral. Em dias tão atribulados, vamos lembrar que o sábado foi feito por causa do homem.