Depressão
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga issoHoje a tristeza não é passageira
Hoje fiquei com febre a tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela parecerá uma lágrimaQueria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humorMas não me diga isso
E só hoje e isso passa
Só me deixe aqui quieto
Isso passa
Amanha é um outro dia não é(A via láctea, Legião Urbana, álbum A tempestade ou O livro dos dias)
Dia 20 de fevereiro de 2019, uma quarta-feira, eu ouvi dos lábios da profissional o que eu já sabia e desconfiava. A palavra não me chocou, mas me colocou no meu lugar. Eu já havia passado por isso, natural é que passasse novamente. Para uns é um palavrão, sinal de fraqueza, de pouca fé, de falta de qualquer coisa. Ninguém é obrigado a me aguentar, a me aceitar nessa condição. Saiba de uma coisa: não quero dó de ninguém. Se você está com dó, pare de ler aqui. Estou vivendo, desde o dia 20 de fevereiro de 2019, de uma maneira diferente, de uma forma diferente. Pequenas coisas têm sido grandes conquistas, como, por exemplo, escrever o presente texto. Tornar legível um diagnóstico, uma condição, é sempre um desafio. Ainda mais exercendo eu a função que exerço. Escrever é uma tarefa difícil. Cada texto, sermão, meditação, crônica, conto e roteiro, quando concluído, é celebrado como uma vitória incrível.
Existem dias, e momentos durante o dia, que sinto como se não estivesse cabendo em mim mesmo. Vazio. Silêncio. Lágrima. É como se a vida fosse indiferente. As noites não passam, os dias se arrastam. É como se a vida, por conta do cansaço e da pressão, tivesse transbordado e, num dilúvio, me esvaziado. Falta fôlego e o silêncio gritante, consome. Uma vontade de gritar, que não permite a voz sair. Uma vontade de calar, que me faz querer gritar. Calo-me. Há tanto a confessar, nada a fazer. A vida transbordou, mas também me esvaziou. Nessa dicotomia incompreendida, nesse pêndulo de sensação, emoção e sentimento, me vejo num compromisso comigo mesmo a confessar o que tenho e o que passo. Não como uma prestação de contas públicas, mas como uma prestação de contas pessoal.
Tem gente, muito próxima, que pensa que isso tudo é frescura, que faz troça, graça, zoeira e se acha tão superior em sua espiritualidade e liderança, que é incapaz de exercer simpatia e empatia com um igual, quanto mais a quem eles lideram. O que me revela que, infelizmente, há muitos pastores doentes, que se acham superiores, ungidos de Deus, mas que não são capazes de entender e compreender o que o outro, seu semelhante, passa. Como disse num ‘tweet’ outro dia: “Sabe a minha dificuldade com os ungidões? Essa mania que eles têm de se achar acima dos outros, vendo apenas o centro de seu mundo, falta empatia. Quero distância de gente assim, mas o Evangelho me mandar amar gente assim”. Tenho que fazer escolhas na minha vida. Tenho que me manter focado naquilo que Deus quer de mim e, se passar por essa condição é um deserto ou uma estrada acompanhada, cabe a mim escolher as companhias que vão me levar às águas tranquilas, pastos verdejantes e não ao vale da sombra da morte. (Para quem me lê e não é Cristão, busque o Salmo 23 que você entenderá a imagem)
A palavra bendita, que define o que tenho, pode chegar até você também. A questão é como lidamos com ela e qual o propósito dela em sua vida. Não somos imunes a ela. Pode ser causada por questões genéticas, pelo histórico de vida, por diversas coisas. Nunca há uma só causa. Nunca é só um fator. É complexo, pois assim fomos criados, complexos. Coisas pequenas, insignificantes para uns, ferem outros, me ferem. É simples assim. Fere e eu preciso aprender a lidar com isso. Estou dizendo mais “não”. Estou respondendo mais à altura o que me fere. Preciso, ainda, reaprender a controlar os ímpetos. Aprendo, sobretudo, a viver da graça de Deus sobre minha vida. Motivação é mais que uma palavra, é uma necessidade. Se a depressão me puxa para baixo, me impedindo de levantar, a graça de Deus me ergue, todos os dias, me ensinando a confiar. Vejo sua mão na consulta com a psiquiatra, na sessão com a psicóloga, nos efeitos da medicação. Queria encerrar dizendo que vai ficar tudo bem, que vai passar, que vai embora isso tudo. Mas não sei dizer se isso é verdade. Um dia acaba, mas até lá, eu opto diariamente pela vida, como um desejo constante de viver, não por mim, mas por Cristo. Se há alguém que pode me ajudar, nessa hora, é Cristo. Apenas ele. A vida me adoeceu, só a nova vida pode me curar.