Ciclos e círculos
Um breve arrazoado sobre o fim do ano
Umas das coisas que me incomodou no fim do segundo ano de pandemia é a sensação de que estamos celebrando demais e normalizando muito a tragédia ao nosso redor.
Vejo celebrações, gratidões e afins com muita resignação, como se a realidade ao nosso redor tivesse sido apagada. Essa desconexão com a realidade coletiva em detrimento do bem-estar pessoal não é exclusividade deste momento, mas está mais latente.
Não digo que você deva ignorar seu bem-estar e se tornar um pessimista reclamão — essa função já é minha —, mas sim não ignorar a realidade. A vida não é essa foto do Instagram cheia de filtros. Existe uma realidade palpável que não cabe no seu feed.
Neste fechar de ciclo de 2021 para 2022 percebo que o ciclo não se fecha. Parece permanecer aberto desde 2020. Covid, política, economia, religião, tudo permanece em constante alerta e sem solução.
Neste mix de tragédias e não conclusões, nossos círculos de amizades e relacionamentos foram se alterando com cancelamentos sumários, distanciamentos intencionais e novas aproximações.
Nestes círculos alimentamos nossas ideias, confirmamos nossas ideologias e encontramos validação. A bolha é confortável demais e não queremos ninguém quebrando nosso conforto.
No fim de todo esse jogar de ideias em pequenos parágrafos, chego à conclusão que invertemos os fundamentos. Os ciclos, que deveriam ser fechados para haver renovação, permanecem abertos. Os círculos, que deveriam ser abertos para haver diálogo, permanecem fechados.