A festa é do Rei

Giovanni Alecrim
6 min readOct 15, 2023

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O nosso papel no chamado “fim dos tempos”

¹Jesus lhes contou outras parábolas. Disse ele: ²“O reino dos céus pode ser ilustrado com a história de um rei que preparou um grande banquete de casamento para seu filho. ³Quando o banquete estava pronto, o rei enviou seus servos para avisar os convidados, mas todos se recusaram a vir.

⁴“Então ele enviou outros servos para lhes dizer: ‘Já preparei o banquete; os bois e novilhos gordos foram abatidos, e tudo está pronto. Venham para a festa!’. ⁵Mas os convidados não lhes deram atenção e foram embora: um para sua fazenda, outro para seus negócios. ⁶Outros, ainda, agarraram os mensageiros, os insultaram e os mataram.

⁷“O rei ficou furioso e enviou seu exército para destruir os assassinos e queimar a cidade deles. ⁸Disse a seus servos: ‘O banquete de casamento está pronto, e meus convidados não são dignos dessa honra. ⁹Agora, saiam pelas esquinas e convidem todos que vocês encontrarem’. ¹⁰Então os servos trouxeram todos que encontraram, tanto bons como maus, e o salão do banquete se encheu de convidados.

¹¹“Quando o rei entrou para recebê-los, notou um homem que não estava vestido de forma apropriada para um casamento ¹²e perguntou-lhe: ‘Amigo, como é que você se apresenta sem a roupa de casamento?’. O homem não teve o que responder. ¹³Então o rei disse: ‘Amarrem-lhe as mãos e os pés e lancem-no para fora, na escuridão, onde haverá choro e ranger de dentes’.

¹⁴“Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. Mateus 22.1–14

O texto de nossa meditação nesta manhã é a terceira parábola de Jesus acerca dos últimos dias, proferida de maneira seguida no relato de São Mateus.

Inicia com a parábola dos dois filhos em 21.29–32, segue-se a parábola dos lavradores maus em 21.33–46 e encerra com a parábola das bodas em 22.1–14

A das bodas não está aqui à toa. Ela apresenta as mais graves acusações que Jesus tem a fazer contra os mais importantes líderes de seu povo.

As duas histórias anteriores criticaram os líderes porque eles não estavam cumprindo o que Deus pediu, mas a nova é mais grave, porque os líderes do povo estão recusando o convite de Deus.

Além disso, a recusa acontece da mesma forma que a negação da obediência. Leva ao assassinato daqueles escolhidos por Deus para comunicar o chamado de Deus aos convidados.

A recusa ao chamado de Deus não leva o recusante a uma posição de neutralidade, mas sim de oposição frontal a Deus.

O chamado de Deus é radical, não há outra forma de encará-lo. Dizer não, recusar, arrumar desculpas, colocar outros afazeres à frente do chamado é uma afronta direta a Deus.

Dessa forma, a consequência não é apenas a exclusão do reino, uma vez que ainda seria possível existir ao seu lado, mas sim a morte.

O assunto da parábola, portanto, não são as bodas, em si, mas sim o convite para a festa. Foi tudo preparado, faltam os convidados. Eles virão?

O rei envia seus servos. Os escravos, aqui, são os mensageiros. Este papel é importante, pois ao escravo, enquanto mensageiro, cabe entregar a mensagem. Não cabe julgar, nem escolher a quem entregar, apenas entregar a mensagem do Rei.

Como bem vimos, cada convidado tinha uma desculpa, tinha um motivo, e aqueles que não tinha motivos, trataram de dar fim nos mensageiros, para parecer que não houve convite.

É singular notar que, diante da recusa dos convidados, o rei não se dá por vencido. A festa está pronta e haverá festa! E não, não é uma festa da alta sociedade, mas a festa do rei dos reis.

Os escravos não são mais enviados às casas, comércios e fazendas, mas sim aos becos, vielas, ruas que todos têm medo de andar.

Agora, não tem mais pré-requisito, tanto bons como maus são chamados. No entanto, algo acontece nesta parábola, que parece destoar do restante. Um convidado não estava vestido de acordo. Como poderia uma pessoa, sem condições para tal, estar vestido para a festa?

A explicação que encontramos aqui está mais na vida, e menos no traje em si. Mateus já havia falado sobre a necessidade de um novo traje, na perspectiva de uma nova vida, um novo nascimento, em Mateus 9.16 em registra “Além disso, ninguém remendaria uma roupa velha usando pano novo. O pano rasgaria a roupa, deixando um buraco ainda maior”.

A imagem é conhecida dos cristãos, leitores de Mateus, e no contexto da parábola, portanto, o Rei estaria mais preocupado com o coração do convidado, que não estava focado nas bodas, mas em qualquer outra coisa.

Que lições podemos tirar desta parábola para nós, cristãos da terceira década do século XXI?

Servos obedecem, não arrumam desculpas.

É forte, e é radical, como o chamado de Deus. Servos anunciam o evangelho da salvação. Se você não anuncia o evangelho da salvação, você não é servo, você está arrumando desculpas para justificar sua inércia diante do Reino de Deus.

Qual a desculpa que você dá, quando o assunto é falar do evangelho que transforma vidas? Vejo muita gente falando da Igreja, das programações, das atividades, mas, e do evangelho, do convite que o Rei ordenou que entregássemos?

Até quando vamos camuflar nossas atividades com roupagens pretensamente cristãs, ao invés de anunciar o evangelho?

Esqueça os palácios!

Aqueles que julgamos serem os primeiros a serem convidados, esqueça! Isso mesmo, o Reino de Deus é para os que estão nas vielas, becos, para os bons e os maus.

Vejo muito cristão confundindo evangelho com moralidade, achando que os maus não têm lugar no Reino, sim, eles têm, pois, uma vez chamados pelo Rei, têm sua vida transformada, recebem uma nova roupa, uma nova vida.

Esteja atento ao seu coração

Pureza de coração é desejar uma só coisa. (Søren Aabye Kierkegaard (1813–1855) foi um filósofo, teólogo, poeta e crítico social dinamarquês, amplamente considerado o primeiro filósofo existencialista).

Deseje o Reino de Deus e sua justiça, todas as demais coisas virão. Vejo cristãos desejando um país cristão na base da lei humana. Vejo cristãos desejarem uma igreja lotada na base da convicção humana. Vejo muito cristão vivendo apenas pelos desejos de seus próprios corações.

Esteja atento ao seu coração. Pare de focar nos poderes podres deste tempo, foque naquilo que você foi chamado a viver: convidar as pessoas para o Reino de Deus.

Conclusão: muitos são chamados, mas poucos são escolhidos

O chamado do evangelho é ouvido por todos os lugares. Ele alcança muitas pessoas. A grande maioria deles é como o homem da parábola: ouvem, mas não fazem questão. Ao contrário de muitos que se perdem, poucos se salvam, ou seja, aqueles que foram escolhidos desde a eternidade para receber a herança da vida eterna. A salvação, portanto, não é uma realização humana, mas sim um dom da soberana graça de Deus.

Muitos são os chamados. Vejo cristãos usando este verso para justificar aqueles que abandonam a Igreja ou a fé. Não é sobre isso que o versículo fala, antes, ele é uma síntese da parábola das bodas.

Muitos são os chamados. Os primeiros convidados, que os cristãos do século I interpretam como sendo Israel. Os segundos convidados, os que Israel renegaram enquanto povo, os gentios. Muitos são convidados.

Poucos são os escolhidos, a saber, aqueles cuja vida foi tomada pelo Espírito Santo e transformada para viver o que o Rei nos envia a viver: proclamar o evangelho.

Ao falar dos últimos dias, Jesus está nos colocando em nosso lugar. Não somos nós que preparamos a festa, é o Rei. Portanto, a festa é dele e ele chama quem ele quer, não quem nós queremos! O nosso papel até o “fim dos tempos” é chamar. Somos os escravos a anunciar: venham para a festa do Rei!

Sermão pregado em 15 de outubro de 2023 na Igreja Presbiteriana Independente de Tucuruvi, São Paulo, SP

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