A falta que ela nos faz
Ela anda esquecida, deixada pelos becos de um passado distante, quando éramos poucos e ainda havia espaço para ela em nossa agenda. Ela foi deixada de lado pelas novas gerações. Ela ficou de lado por conta de nossa indiferença e muitos a desconhecem. Ela é admirada por aqueles que a conhecem inesperadamente e se deparam com ela por meio de pessoas que insistem em mantê-la viva em meio ao corre-corre de nossa sociedade.
Gentileza. Onde foi parar esta senhora tão cultuada pela geração de meus avós e meus pais? Onde ela está agora que não a vemos mais nas ruas apinhadas de carros, nos restaurantes lotados, nos bares abarrotados? Onde está esta senhora que fazia da cidade um lugar mais aprazível? Onde foi parar a gentileza? Muitas vezes nos deparamos com ela no entrar e sair de um lugar, com um homem a abrir a porta para uma mulher, ou no meio da rua no carro parando para o pedestre passar. Mas quantas dessas situações temos assistido? Gentileza já foi mais viva, pois o bem coletivo era prioridade, era pelo bem-estar de todos, por educação, que se abria uma porta para uma mulher ou uma pessoa de idade. Hoje ela está esquecida e faz uma falta tão grande. Podemos perceber no olhar das pessoas que recebem uma gentileza um brilho inesperado de receber um presente que não custa nada, mas que vale muito.
Gentileza, minha senhora, volte logo para esta sociedade tão corrida, tão atarefada, tão preocupada com si mesma e faça brilhar novamente em nossos rostos a alegria de um gesto singelo e puro, desprovido de interesse e cheio de ti, ó gentileza! Talvez seja isso que Gonzaguinha tenha visto naquele homem que havia perdido a família num incêndio e vagava pelas ruas do Rio de Janeiro, como um mendigo, mas distribui a todos os que passavam palavras de amor à humanidade. Talvez por isso esse andarilho, homem de rua, tenha recebido o nome de Gentileza, porque no meio do caos urbano ele foi louco o suficiente para ser gentil, coisa que gente normal não consegue ser.